“Dá até vontade de arrancar seu pescoço” Parte I
Cá estou novamente, prosos queridos, nossa história de amor já pode continuar... Gostaria de contar-lhes (e como de costume filosofar um pouquinho) mais um causo de meu cotidiano fatigado no qual tem uma pedra em minha retina, em minha retina tem uma pedra. Almoçando muito na rua? Gastando muito dinheiro com pedintes mirins cada vez mais capacitados na arte da coação? Pois é, seu amoroso interlocutor, por vezes mais que suficientes, o fez; e, certo dia esgotou-se disso. Como mentiroso que sou pergunto-lhes novamente: sois livres? (n. de rodapé)
À espreita está Uóchinton da Silva, como todos os dias ele se esgueira pelas filas dos caros restaurantes de uma Cidade Universitária qualquer, repleta de membros piedosos da elite. Apresenta-se sua primeira vítima; no começo do horário de almoço naquele estratégico restaurante de saladas repleto de naturebas altruístas, ele se aproxima, pede seu prato, saca sua carteira, retira seu dinheiro; pronto! Uóchinton encontra ai o momento perfeito, com sua caixinha de engraxate se aproxima e diz, com olhos esbugalhados e a mão a esfregar sua barriguinha de vermes: - Dá um dinheiro ai preu cumê! – Então o “tio” devidamente “puto” com essa atitude que o assola todos os dias responde num ato seco de revolta, misto com seu cansaço habitual após horas de estudo: - NÃO! – O garoto, então espantado com a atitude livre de costumes impostos de piedade, recua; projeta um olhar venenoso, maligno, repleto de revolta, contra o “tio” que não está cumprindo com sua obrigação civil de ajudar a quem quer que peça ou pareça necessitar, então diz, com todo seu estoque existente de raiva (e possivelmente fome mesmo, ou crise de abstinência de alguma droga, quem sabe?): - Pô ai, dá até vontade de arrancar seu pescoço – E vira-se num ar caustico e num furor de um futuro assassino, dando as costas e pisando fundo em direção a próxima vitima. Quiçá essa se renda aos coercitivos fatos sociais da piedade...
E agora, o que pensam sobre a liberdade? Além do claustro dos fatos sociais de etiqueta - analisados durante um almoço que não ocorreu - nos encontramos com expressões claras de fatos sociais sob o cunho moral da obrigação e da penalidade. Imaginem esse “de menor”, “de maior” com porte de armas (conferido pelo traficante de seu morro de costume), e a mesma raiva e sentimento de obrigação civil, engrandecidas agora por mais uns dez anos. Seria a partir de então o juiz, advogado, promotor, júri e executor da sentença contra um crime que atenta contra seu próprio código civil.
Mas faço mais uma pergunta: quem propôs as leis deste código? Recuso-me a acreditar que tal garoto fosse sozinho capaz de arquitetar tamanha obra. Durante anos, ou mesmo décadas, talvez desde muito mais tempo, nos acostumamos com a rotina ideológica de ver, com retinas empedradas, a existência de oprimidos e opressores; aos oprimidos movemos piedade e aos opressores revolta. Essa é a composição antiga de um código civil de piedade que se impõe à nossa existência, essa lei cristã de piedade nos faz acreditar na existência um opressor (chamado por vezes de governo) e toda uma classe de oprimidos. E nós bem aventurados (uma terceira classe), somos responsáveis pelo bem estar dos oprimidos e por reclamar do governo, quero dizer... do opressor.
Ou seja, existem três classes de indivíduos, que impostas ao nascer de cada um o faz ser sujeito de revolta e condolência; de auto-piedade e objeto de piedade alheia; ou, de opressão e massacre. Até chegar o lobo mau e este dar todo o sentido à fabula da realidade... é claro!
Caso vocês, amados prosos, estejam ainda interessados na fabula nossa de cada semana, esperem então mais uma, onde videarão a plenos olhos o desenrolar desta estorinha.
(n. de rodapé): Estou me referindo ao texto anterior (Almoço Negado) no qual disse que seria a ultima vez que perguntaria sobre a liberdade.
Leonardo Ferreira Guimarães
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5 Comments:
Uma palavra?
Genial!!!
Não consigo dizer mais nada...
Ce sabe que sou seu fã, principalmente agora que voce estah deixando pra tras uma composicao hipocrita de sentimentos "lindos e puros", ou seja, estah comecando a colocar o dito cujo na mesa. Mas soh dois comentarios:
1) rebusque menos o texto, pls, com tanta firgula (virgula com firula) fica parecendo discurso de politico safado querendo enrolar alguem.
2) Eh fi, liberdade eh poder voar de gaiola em gaiola. E voce soh estah procurando uma gaiola mais arejada.
Muito bom conteudo! t+
Gostei, tio... Essa coisa de liberdade é esquisita, q nem o infinito. Se vc proibisse o carinha de pedir, vc tb não estaria coibindo a liberdade dele? Acho q a liberdade é um "discreto charme da burguesia", q consiste em coibir a liberdade de quem não interessa. "a sua liberdade termina quando a minha começa", e se tirarem o vice-versa do dicionário, tanto melhor... Sei lá... Ah, como sou prolixa! Não consigo fazer um comentário monossilábico... Bjão, moço!
Tava analisando o título... Putz, o cara é mau, mesmo, hein? Ele não se contenta em arrancar a cabeça, ele vai arrancar o pescoço!!! +bjs
E aí professor,
tudo tranquilo?
Tava passando pelo seu profile no orkut e resolvi visitar o seu blog. E não me arrependi. Disse que tinhas o dom para a escrita, e não menti. É fato. Você nasceu para isso. Vou passar aqui mais vezes, ok?
Abaços,
Maicon
"Construa sua estrada no hoje, pois o terreno do amanhã, é incerto demais para os planos."
W. Shakespeare
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