segunda-feira, abril 03, 2006

Almoço negado

Olá meus caros prosos, é bom vê-los novamente! Almoçando muito com a família? E com os amigos, ou melhor, com a família deles? Qual é a atitude padrão de vocês nessas situações, já refletiram sobre isso alguma vez? Já pararam p´ra pensar o que fazem, quando de súbito se vêem em uma situação, de saia justa, em que são convidados à um almoço, no qual o prato que será servido creiam não suportar comer, ou mesmo, quando estão sendo veementemente convidados a uma situação em que sabidamente todos ficarão constrangidos ou desconfortáveis pela sua presença?


No meu ingênuo comentário anterior proseei sobre liberdade, mas, há liberdade? Se num simples convite se vêem sem saber o que fazer de forma que fiquem todos contentes. Na verdade, no âmago, sabem muito bem que as pessoas que estão ali são suas amigas, gostam de sua presença, e, que de forma alguma haveria algum incômodo, ou mesmo, tudo se resolveria no mais simples caminhar. Contudo, convenções sobre aquilo que deve-se: dizer, fazer, ou pensar, confundem e aprisionam nas celas invisíveis do convívio social. Novamente, há uma real liberdade?

Disse uma vez um sábio: fatos sociais são estruturas externas ao indivíduo, e agem sobre ele de forma coercitiva, criando uma inércia que impede ou atrapalha todos os movimentos que possam ir contra eles (*Nota de rodapé). Estamos aqui tendo um exemplo que demonstra (pelo menos no caso de pessoas um pouco tímidas, como vosso amado e querido interlocutor) como essas estruturas, sabiamente nomeadas fatos sociais, podem ser coercitivas a uma atitude individualizada, e, quando vemos – ou melhor, não vemos - estamos agindo de forma inteiramente coagida por essas estruturas invisíveis.

Sois livres então, prosos queridos? Tendes vosso poder de voto, de crença, de opinião; será? Numa fila de banco se prontificam a debater: a velhinha católica, a senhora evangélica, um anarquista ateu e um funcionário público. O anarquista, em sua óbvia liberdade de pensamento e expressão, contesta a todos, como fariam quaisquer outros anarquistas com quem o mesmo dialoga, seja pessoalmente em seu grupo subversivo de amigos, seja através de livros livres (!) e subversivos. Mas analiseis bem, não é, em geral, o dialogo deste típico individuo, muito bem delimitado e doutrinado? Não sabe ele exatamente o que dizer em resposta a cada colocação moralmente enclausurada dos outros tipos?

Vosso amado proso quer ir um pouco mais fundo. De fato, provavelmente há nesse ser algo interno e individual que o torna destoante de seus próximos, mas isso o torna livre dos claustros invisíveis do fato social? Não é a partir disso que se constrói sua cultura; suas bagagens intelectuais; que seus pais respondem de forma diferenciada em sua criação, que seus professores o repreendem ou aprovam por sua “liberdade individual”? (De acordo com seus próprios claustros invisíveis) Não é partir deste momento que se definem os fatos sociais pertinentes à “aura” deste indivíduo, sua moral (por mais que ele prontamente faça uma cara de nojo ao ouvir este nome), seus costumes, seus formulários de resposta a cada atitude externa? Em outras palavras, ele já tem, deste momento em diante, sua forma própria de responder mecanicamente ao convite do almoço? Já seria tomado como surpreendido ao ser indagado porque ele não tomara outra atitude, talvez mais simples? Já se encontra em claustro?

Pela ultima vez, existe liberdade?

Por fim, gostaria de pedir a meus prezados prosos desculpas pela minha ingenuidade e talvez pedantismo ao fazer afirmações indagadoras de tal nível. E faço esse adendo pelo mesmo motivo do almoço negado... Aff

Nota de rodapé: Èmile Durkheim: Regras do método sociológico. A citação não está entre parênteses pois fora resumida e modificada, mantendo-se o sentido original


Leonardo Ferreira Guimarães

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3 Comments:

At abril 12, 2006 9:06 da tarde, Anonymous Anónimo said...

É muito fácil quebrar as algemas dos fatos sociais, quando eles se tornam roupas, simples de serem despidas mas entretanto, sem nos onerar de modo a querermos fazê-lo.
Pense nestes fatos como um bom casaco de moleton, que pode ser confortável em dias frios (embora eu saiba que você prefira sentir o vento gelado na pele). Entenderás aqueles que são tão pouco afetados pelos fatos sociais que não se preocupam nem em quebrá-los.

 
At abril 16, 2006 9:49 da manhã, Blogger Amanda said...

Acho que conheço alguém que usa "p'rá"...

Concordo com as sugestões =-)

Mais comentários no seu scrapbook...

 
At outubro 08, 2007 10:06 da manhã, Blogger Unknown said...

Liberdade de quê... Esperança, aonde.... Tudo o que li me fez refletir de que realmente não somos livres de nada, sempre temos que ser o que os outros querem que sejamos; temos que nos comportar mediante aos olhos dos outros que nos recriminam a cada instante; fazer tudo aquilo que os outros querem que façamos. E a nossa identidade? aonde fica? se não temos liberdade, obviamente não teremos mais nada... Liberdade para semos o que queremos ser; liberdade para amar seja lá com quem for; liberdade para optarmos... mas como disse; temos que seguir regras ( fazer vestibular e outras coisas que são impostas à nossa vida).Seremos dependentes a vida inteira, seja por nossos pais, seja por nossa família, e muito pela sociedade... Mas uma coisa é certa: nessa vida precisamos de todo o mundo,pois sem o outro, amaríamos quem? sem o outro não teríamos trabalho, sem o outro não refletiríamos sobre os nossos pensamentos e atitudes, sem o outro, espelhiaríamos em quem? sem o outro, o seu blog não seria lido por ninguém; sem o outro, prefiro morrer.... pois se não tenho liberdade, pelo menos ainda tenho esperança....

 

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